O grupo de
professores tem uma grande surpresa. Irrompe na sala de forma súbita e
violenta, a mãe de um dos alunos, sem reparar que havia interrompido a reunião
e que se encontrava praticamente rodeava de todo o corpo docente da escola.
Reclamava em altos
brados ao diretor da escola que queria a aprovação imediata de seu filho em
História e Geografia.
Situação um tanto
estranha já que o aluno em questão considerado muito bom e também não havia
sido protagonista de qualquer ocorrência disciplinar. E, mais estranho ainda o
fato de que seu pai e sua mãe haviam sempre colaborado com tudo o que se fazia
para melhorar o funcionamento da escola.
Depois de serenados
os ânimos, a mãe do aluno continuou com os argumentos de seu pedido e fez
questão de dizer que não queria conversar com o diretor em particular e sim
contar com a presença do conjunto dos professores.
Continuou indignada a
expor seus argumentos. Em essência eram dois:
“Não
importa sob que condições era proibido reprovar alunos; essas matérias não tem nenhuma importância.
Se fosse alguma das importantes ela entenderia, mas História e Geografia? De
jeito nenhum!”
Com toda prudência o
diretor da escola se negou a dar uma solução para o caso, até ter condições de
analisá-lo detalhadamente. Anotou todos os fatos ditos pela mãe e ofereceu-lhe
uma atenção cuidadosa.
Logo que a reunião
foi restabelecida com a saída da mãe, o rosto de cada um dos presentes denotava
espanto. Os professores de História e Geografia pediram a palavra e ambos
colocaram mais ou menos o seguinte, dirigindo-se ao diretor:
“Se
você deseja, professor, podemos mudar a nota. Na verdade ele é excelente aluno
em todas as matérias, não tem nenhum nota abaixo de 9,5, somente nas nossas
não conseguiu, na realidade como ele é bom em todas as outras, nossas matérias
não são tão importantes nesse caso”.
Começou um murmúrio
de aprovação por parte de alguns e de severa crítica por parte de outros.
Inesperadamente o
Conselho se via enriquecido por uma temática rara vezes abordada, mas, de
enorme importância para a concepção de que se tem de educação e formação.
O diretor percebeu
que o momento era propício para estabelecer uma salutar reflexão e análise
entre os membros de sua equipe escolar.
Os dados eram os
seguintes:
Marcelo era um
estudante comprometido cujas notas jamais estiveram abaixo de 9,5. Trabalhador,
responsável, participativo, sério e formal. Filho de pais universitários
dedicados à docência e à pesquisa. Sociável, adaptado ao âmbito escolar e bom
colaborador com seus companheiros. Altamente dotado para atividades das
ciências exatas e também para a língua portuguesa, mas com uma grande apatia a
tudo que implicasse conhecimentos de história e geografia. Faltou o máximo
possível a aulas dessas disciplinas e nem sequer deu muita atenção aos trabalhos
solicitados.
Evidentemente, todos
os professores desejavam participar do debate. O inesperado da situação fez com
que a principio fosse uma verdadeira torre de Babel em seu esplendor.
Argumentos iam e
vinham, como fogo cruzado, até que um professor propôs uma ordem para a
discussão.
Dois eram os aspectos
a serem abordados e, ainda que estivessem ligados, cada um requeria uma atenção
separada.
É
verdade que não se pode reprovar?
Efetivamente existe
uma ordem ou dispositivo legal para que um aluno em qualquer circunstância deva
ser aprovado? É verdade que existem matérias de primeira e de segunda? Há
matérias que só existem para enfeitar o currículo?
Foi interessante
conhecer os pontos de vista dos professores, assim como suas concepções
pré-estabelecidas.
É
verdade que não se pode reprovar?
Espantoso foi
encontrar alguns docentes que não só compartilhavam a opinião da mãe, mas que também
estavam convencidos que de aprovar os alunos era uma de suas obrigações imprescindíveis como mestres de ensino básico. Ainda que, claro, ninguém possa
ter lembrado de ter recebido uma instrução direta nesse sentido, nem que
conhecessem documentos legais em que houvesse um mandato semelhante.
Outro fator, mais
complicado, tratava-se de um propósito educativo. Era o de não deixar à deriva
os alunos que tinham problemas em suas aprendizagens. Prevenir em vez de
lamentar.
Sob esta perspectiva,
as coisas mudavam substancialmente. Não era um “aprovar” aconteça o que
acontecer, sob qualquer circunstância, e sim, cuidar, conduzir e orientar
durante todo o ano escolar. Corrigir a tempo, estabelecer estratégias de
recuperação, apontar as dificuldades e trabalhar para tentar saná-las.
Confrontar pontos de
vista modificou a visão de mais de um. Aprovar o aluno deixava de ser uma
derrotaa ante um potencial fracasso escolar, com uma perspectiva modificada,
era vitória para o professor como facilitador de um processo.
Se também era válido
reprovar, era mais válido ainda conseguir que o aluno com seu desempenho
torna-se a reprovação desnecessária, pois trbalhar para o êxito é muito mais
útil e valioso que simplesmente aceitar o fracasso como um dado, como algo já
pré-estabelecido.
É verdade que existem
matérias de primeira e de segunda?
Este ponto do debate
foi verdadeiramente apaixonante.
Para alguns
professores, sua matéria era central, a única, a indispensável. Independente de
qual fosse, o mundo só podia ser entendido através dela, todo o restante do
campo de conhecimento adicional era complementar e marginal.
Também houve posturas
que pecaram por excessiva humildade. Professores que, em um excesso de
condescendência, opinaram que sua matéria era de pouca importância real, ao
menos para atingir todos os objetivos de ciclo educativo.
Há! Houve um consenso
pleno, foi aquele que outorgava às matérias exatas, às matemáticas, um lugar
especial. Mesmo abundando em argumentos percebia-se muito mais que o fato
resultava de um temeroso respeito ancestral pela matéria.
Pouco a pouco a
discussão foi se assentando e cada um dos professores falou de suas carências e
das faltas em sua própria formação.
Ciências biológicas
que deveriam ter sido enriquecidas com algo de humanidades. Ciências exatas que
poderiam ter sido estudadas com um pouco menos de abstração e mais contato com
o mundo real.
Acabou vindo à luz
esse ideal de desenvolvimento integral, de individuo completo que se constitui
no físico, no afetivo, no intelectual e no social.
Se o aluno foi
aprovado ou não é você quem vai decidir, de acordo com suas concepções sobre
educação, ensino, aprendizagem, avaliação, finalidade da escolarização, etc.
O importante, o transcendente, foi essa discussão, intercambiar e modificar pontos de vista.
Entender que o próprio “que fazer” como professor é um processo que, com toda
certeza, deve ser sempre integral.
E você? Qual sua
opinião?
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