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quarta-feira, 6 de julho de 2016

PROCESSAMENTO AUDITIVO


Escrito por Luciana Siqueira - Fonoaudióloga

Nestes dezesseis anos de experiência clínica, deparei-me inúmeras vezes com crianças com dificuldades escolares. Todas as semanas chegam à clínica uma boa quantidade de pacientes com queixas que giram em torno do processo de aprendizagem, causando, de alguma forma, algum prejuízo em sua vida escolar.

Nem todas as crianças chegam diretamente à fonoaudióloga. Muitas famílias, exaustas do estresse que permeia este processo, procuram num primeiro momento o psicoterapeuta, uma vez que a criança ou adolescente não apresenta “troca de letras” para escrever, mas sim uma incapacidade em absorver o que é ensinado, sintomas de desatenção, desmotivação, entre outras tantas queixas relacionadas à escola.
O psicólogo por sua vez, traça todo seu trabalho em cima daquela queixa, algumas vezes encaminhando este paciente a um psicopedagogo. Perfeito! Porém, não suficiente. O que percebemos é que, na maioria das vezes, a queixa se prolonga, o trabalho fica extenso, moroso e este é um candidato a realizar ambas as terapias por anos, ou até que o cansaço vença esta criança/ adolescente e esta família, sem resolver efetivamente o problema.
A fonoaudiologia descobriu há alguns (poucos) anos atrás que este pode ser um problema maior, um problema CENTRAL, que gera na criança/ adolescente uma incapacidade REAL de aprender. Esta incapacidade pode estar ligada diretamente ao PROCESSAMENTO AUDITIVO.
O PA é a forma como o indivíduo PROCESSA as informações que recebe pela via auditiva. A audição entra pelas orelhas (audição periférica) e aquilo que entra perifericamente é processado no sistema nervoso central (audição central).
Ao contrário do que muita gente acredita, é um problema muito comum, e não está relacionado com déficit de inteligência ou déficit de audição.
A maioria das crianças que apresentam alteração do PA são crianças/ adolescentes “normais”. Os sintomas são muitas vezes confundidos com preguiça, desleixo, distração ou até mesmo, dependendo da dinâmica familiar, agressividade e enfrentamento.
Os pais costumam chegar ao consultório com os seguintes discursos: “Meu filho é preguiçoso, quando está em frente à televisão e é chamado, não responde, finge que não ouve, mas ele ouve, porque até já fez uma audiometria e deu normal”; ou “não sei mais o que faço com esse menino, ele começa estudar e vai pro mundo da lua, você olha pra cara dele e percebe que ele está viajando, até os professores dizem a mesma coisa”; ou: “essa criança não pára quieta, a gente senta pra estudar e parece que tem formiga na cadeira, ele pega o lápis, fica balançando, mexendo os pés, olha a mosca passando, não consegue se concentrar em nada que não seja do interesse dele”; ou ainda “não sei o que acontece, ele é quieto, não dá o mínimo trabalho, mas você estuda com ele depois pergunta e vê que ele não entendeu absolutamente nada”; ou: “ele é devagar, nunca consegue terminar de copiar o que está na lousa antes que a professora apague”; ou então: “ele lê fluentemente, mas quando você pede pra ele contar o que leu, ele não consegue”.
Inúmeras são as situações que podem evidenciar um transtorno do processamento auditivo e normalmente: NENHUMA DELAS ESTÁ RELACIONADA DIRETAMENTE À AUDIÇÃO e na maioria dos casos, a audiometria apresenta-se NORMAL.
Geralmente, crianças que apresenta trocas de letra na fala, são grandes candidatas a apresentarem alteração do PA, uma vez que já se percebe desde pequeno uma certa dificuldade de processar e organizar aquilo que ouve e reproduzir.
A boa notícia é que já existe tratamento para estes transtornos. Além da psicoterapia, IMPRESCINDÍVEL, uma vez que essa criança e essa família estão completamente desestruturadas pelo estresse gerado em ambos em decorrência deste processo, a FONOAUDIOLOGIA vem contribuir imensamente com o TREINO AUDITIVO para adequar essas habilidades.
É um trabalho muito específico, realizado num ambiente silencioso, com fones de ouvido, com informações diferentes em cada orelha, com ruídos competitivos, para que ele aprenda a manter a concentração em ambientes com barulhos (para crianças com alteração do PA, um colega virando uma simples página do caderno pode fazer com que a criança se desconcentre); memória auditiva para que o conteúdo seja absorvido mais facilmente (uma vez que a maioria das informações que recebemos na escola entra pela via auditiva); integração inter-hemisférica (para que os dois lados do cérebro trabalhem juntos), entre outros.
Com este trabalho, o cérebro realiza novas conexões (sinapses) que não existiam anteriormente, adquirindo novas habilidades e finalmente, ele estará pronto e adequado para receber as informações vindas da escola ou do mundo.

O Processamento Auditivo é um treino para a vida!

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