O processo de ensino e aprendizagem
envolve os seguintes elementos:
ALUNO
Deve ser percebido como um sujeito
concreto, situado no tempo e no espaço, síntese de múltiplas determinações,
isto é, um sujeito real – com o qual a escola necessita trabalhar da melhor
maneira possível. É fundamental que os educadores tenham condições e assumam
trabalhar definitivamente com os educandos que estão nas escolas, oriundos das
camadas majoritárias da população. Isso significa colocar fim à percepção
ideologizada que se faz desses alunos, rotulando-os como “fracos”, “mal
educados”, “despreparados”, “preguiçosos”, etc. Esse tipo de percepção acaba
comprometendo, negativamente, a relação pedagógica entre o educador e o
educando e, consequentemente, o próprio processo de democratização da educação
escolar.
PROFESSOR
Deve ser percebido, apesar de todas as
dificuldades da situação atual do ensino, como o profissional responsável pela
educação escolar, autoridade competente, profissional responsável pela mediação
entre o educando e os conteúdos do ensino. Deve apresentar competências para a
tarefa docente e compromisso politico com o trabalho que desenvolve no
magistério.
OBJETIVOS
São necessários no processo
ensino-aprendizagem e devem refletir os pontos de chegada da educação escolar.
Devem ser definidos, a partir das necessidades dos educandos e dos compromissos
técnico-políticos do grupo dos educadores. Devem refletir, ainda, a desejada
instrumentalização do educando para a prática social, que resulta do domínio
competente do saber produzido na sociedade e democratizado pela escola. A
definição dos objetivos deve resultar da reflexão dos educadores em torno das
questões do tipo: Quem é o aluno que frequenta a nossa escola? Qual trabalho
desejamos fazer com ele? Que tipo de cidadão desejamos formar? São questões que
estimulam uma discussão dos valores da educação escolar e propiciam o
surgimento dos reais objetivos com os quais o grupo de educadores deseja se
comprometer.
Sua formalização deve ser clara e
objetiva, sem contudo cair em exageros do tecnicismo que orientou, durante
muitos anos, essa tarefa nas unidades escolares. Vale ressaltar o aspecto
técnico que envolve a redação de objetivos, desviando-se, contudo, do
tecnicismo que colocou mais valor na forma que no conteúdo, chegando mesmo, em
algumas situações, a propiciar o distanciamento entre reflexão e ação.
CONTEUDOS
São os conhecimentos produzidos e
acumulados historicamente pela humanidade, que devem ser democratizados via a
educação escolar, de forma sistemática, organizada e coerente. São meios
utilizados pelos educadores para a instrumentalização dos cidadãos, na
perspectiva e especificidade da educação escolar. É preciso enfatizar a
tríplice finalidade do saber, ensinando e trabalhando na escola:
- Saber
para si: significa que o educando tem direito a aprender aquilo que a
escola deve ensinar. O educando deve apropriar-se do saber escolar e essa
apropriação tem um caráter politico, na medida em que instrumentaliza o
cidadão-educando para uma prática social objetiva.
- Saber
para fazer: significa a tradução do saber aprendido em capacidades
especificas para uma prática-profissional critica. O ensino de determinados
conteúdos poderá priorizar a formação de determinadas habilidades intelectuais
e psicomotoras
- Saber
para ser: significa a articulação dinâmica daquilo que o sujeito sabe
e saber fazer, em posicionamento – atitudes e comportamentos – diante das
contradições da sociedade capitalista brasileira. É preciso que a escola
assuma, dentro de seus limites, objetivos e, na sua especificidade, a formação
de atitudes inerentes ao aprendizado de determinados conteúdos.
Para além da socialização dos
conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade, é fundamental a
produção do novo conhecimento, que tem como base aqueles já, anteriormente,
produzidos. Isso coloca pra a educação escolar o desafio de recriar o
conhecimento, como meio de desvelar a realidade, “descobrir” o “coberto”, tendo
assim mais clareza para intervenção na sociedade, ao sentido de transformá-la.
METODOLOGIA
É o processo pelo qual o educador
utiliza diferentes procedimentos, técnicas e recursos para a mediação entre o
educando e os conteúdos do ensino. É preciso distinguir método e metodologia. O
método é o caminho, a direção a seguir, isto é, posição primeira para iniciar o
trajeto, envolve atitude, valores e posicionamentos frente ao trabalho
realizado. A metodologia, como elemento intrínseco ao processo de ensino e
aprendizagem que é, prevê a articulação conteúdo-método como fundamental,
propiciando ao aluno a ampliação da compreensão crítica da realidade, quando o
educador utilizar a experiência empírica deles, como ponto de partida para a
compreensão crítica da realidade social mais ampla.
A metodologia pode ser considerada como
o método em ação, onde os princípios do método (atitude inicial, básica de
percepção da realidade e suas contradições) estarão sendo sintetizadas na
realidade da prática educacional.
A metodologia, para além do estudo dos
métodos dedutivo e indutivo, pressupõe a utilização de alguns passos básicos:
- Constatação
da situação-problema, a partir daquilo que é a manifestação dos problemas;
- Introdução
da fundamentação teórica para a caracterização clara dos problemas, onde fique
exposta a raiz que o origina e o contexto no qual se manifesta;
- Propostas
de ações para a superação dos problemas, a partir daquilo que foi constatado e
caracterizado.
A metodologia pode ser considerada,
assim, um processo que propicia o desvelamento da realidade, onde fiquem
expostas as suas contradições básico-estruturais e conjunturais.
Possibilitando, desta forma, que o educando avance da consciência ingênua, para
a consciência crítica.
Todavia, para que a metodologia cumpra
esse objetivo de processo de ampliação da consciência é fundamental que ela
tenha uma origem nos conteúdos do ensino, considere as condições objetivas de
vida e trabalho dos alunos e professores, utilize competentemente diferentes
técnicas de ensinar e aprender os conteúdos. São elas: aulas expositivas,
dialogadas, seminários, momentos de reflexões, pesquisas e projetos, trabalhos
individuais e grupais, entrevistas, leituras comentadas, exposições de sínteses
individuais e grupais, painéis, jogos, estudos, estágios, etc.
A metodologia prevê ainda a utilização
comunicacional competente e dinâmica dos diferentes recursos de comunicação e
seus conteúdos de informação para o processo ensino-aprendizagem, que são:
falas orais, quadros-de-giz, de pregas, murais, álbuns seriados ou sanfonados,
textos escritos, cadernos, cartazes (outdoor ou indoor), diafilmes sonorizados
ou não, slides – sonorizados ou não, diagramas, demonstrações, dramatizações,
exposições ou mostras, excursões, experiências diretas ou simuladas, desenhos,
flanelógrafos, fotografias, folhetos, folhas impressas, mimeografadas,
gráficos, gravuras, ilustrações, imantógrafos, livros, livros didáticos,
modelos, moldes perfurados ou recortados, mapas, plantas, planos, globos reais,
revistas, revistas em quadrinhos, jornais, rádios, etc. Mais importante que
conhecer todos estes recursos de comunicação é estar atento para o fato de que
cada um deles tem, em si, modos de perceber a relação homem-mundo e a relação
entre os homens. É preciso estar atento ao conteúdo ideológico impregnado nos
mesmos, o que significa reafirmar a não-neutralidade dos recursos de comunicação
utilizados no processo de ensinar e aprender.
A relação entre conteúdo e método
prevê, pois, a utilização coerente de diferentes técnicas e recursos de
comunicação, na dinâmica metodológica do processo de ensinar e aprender.
AVALIAÇÃO
É o processo pelo qual o professor
acompanha a aquisição de conhecimento do aluno, verificando se houve domínio
competente dos conteúdos (conceitos básicos, princípios e conhecimentos), o
desenvolvimento de determinadas capacidades relacionadas à aprendizagem dos
conteúdos trabalhados e atitudes a serem desenvolvidas pelos alunos. A
avaliação é bastante importante, desde que não se torne um fim em si; trata-se
de um recurso que deve ser utilizado e colocado a favor da aprendizagem do
aluno e não como instrumento de opressão e punição. É preciso que a escola
desenvolva uma atitude mais educativa em relação à avaliação, onde fique claro
para o professor aquilo que o aluno sabe e aquilo que ele ainda não aprendeu.
Um processo de ensino competente – bem preparado e desenvolvido – diminui,
sensivelmente, os tradicionais problemas de avaliação do aluno, que refletem
muito mais a precariedade do processo ensino e aprendizagem, que a incapacidade
do aluno para aprender. É preciso, pois, que se recupere instrumentos e
técnicas de avaliação mais desafiantes e competentes, que funcionem como apoio
para uma aprendizagem que instrumentalize o cidadão para a prática social
concreta.
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
É a relação profissional entre o
educador e o educando, onde o primeiro será o mediador entre o aluno e os
conteúdos do ensino. O educador é aquele sujeito formado, com pouca ou muita
experiência, que deve apresentar certo nível de maturidade
pessoal-profissional, sendo responsável pela direção do processo educativo
escolar. A relação humana, respeitosa, saudável, amigável, cordial, clara entre
educador e educando não pode desviar para o autoritarismo de um sobre o outro,
nem tampouco cair na indiferença e na omissão do “laissez-faire”, e, sim,
assumir um caráter de autoridade competente, própria de quem tem consciência
daquilo que é ser cidadão-profissional consciente e crítico.
Isso significa assumir uma desigualdade
como ponto de partida, na relação professor-aluno, onde se evite a distorção do
educador utilizar um jeitão “bonzinho”, “camarada”, “amigão”, para escamotear
uma atuação docente incompetente. É comum mesmo alunos não fazerem queixas e
sim gozação dos professores bonzinhos, que nada ensinam, nada dizem e nada
realizam nas salas-de-aula, no sentido de efetivo domínio de um ensino competente,
sério, articulado e bem sistematizado. Em outras palavras, o professor bom,
amigo e companheiro dos alunos é aquele que leva a sério o seu trabalho, dando
exemplo de seriedade, empenho, compromisso e competência com aquilo que realiza
no seu fazer pedagógico.
Os elementos básicos do currículo, da
forma didática como foram apresentados, onde cada um deles foi minimamente
explicado, podem passar a impressão de elementos isolados entre si, quando, na
realidade, devem, isto sim, ser percebidos e assumidos como uma totalidade
curricular. A explicitação de cada um deles deve reforçar, dessa maneira, tanto
uma percepção da globalidade do processo ensino-aprendizagem, como,
principalmente, uma prática pedagógica que articule dinamicamente o pensar, o
fazer e o sentir.
Referência:
FUSARI, José Cerchi. O
planejamento da educação: subsídios para ação-reflexão-ação. Texto
distribuído pelo autor em evento de desenvolvimento de educadores do município
de Taboão da Serra, São Paulo.
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