Muitas crianças sofrem quando se descontrolam, quando fazem o que não poderiam nem deveriam fazer, quando expressam explosivamente seus caprichos, quando se debatem com uma tarefa difícil que precisam cumprir e se perdem no abismo do "eu não vou conseguir, eu não sou capaz", quando transgridem um princípio conhecido e sabem que a consequência de seu ato prejudica alguém.
O sofrimento delas fica
estampado com tanta clareza que é difícil um adulto não perceber o que ocorre
nesse momento.Mesmo assim, a reação de muitos deles tem sido insensível. Já faz
um tempo que adotamos a postura de reclamar de comportamentos das crianças, de
nos sentirmos vítimas de suas atitudes, de nos fazermos impotentes frente a
elas.
"Eu não aguento mais
esse menino!", "Eu já fiz de tudo para ensinar a ela que não pode
fazer isso", "Ela não tem jeito", "Essa criança precisa de
um castigo muito sério" são frases que ouço pais e professores dizerem com
frequência. Pois elas expressam a falta de compaixão e de empatia dos adultos
para com as crianças, o que talvez seja uma marca importante de nosso tempo.
É preciso buscar novos
caminhos para reagir às crianças que experimentam as situações acima, já que,
mais do que acusações e reclamações, elas precisam é de nossa ajuda, de nossa
intervenção educativa.
Em primeiro lugar, é bom
lembrar que, como nos ensinou Françoise Dolto -psicanalista que se dedicou a
compreender a infância e a adolescência-, quando uma criança reage com
violência a uma pessoa ou a uma situação, é porque ela tem lá suas razões,
mesmo que não seja possível perceber os motivos que a levaram a se comportar
dessa forma.
Isso não significa, é
claro, que pais e professores não tenham que fazer com que ela arque com as
consequências de seus atos e que não a levem a reparar o que fez. Mas ter essa
compreensão é fundamental para que seja possível manter a calma e o equilíbrio
a fim de não se relacionar com a criança de modo simétrico e, desse modo,
perder o lugar de educador.
Reclamar de, acusar,
julgar e condenar são atos que, em geral, praticamos com quem ocupa posição
simétrica à nossa. Fazer isso com crianças mostra que, diante delas, deixamos
vago o lugar de adultos.
É possível ensinar às
crianças o respeito às normas importantes para a convivência sem que isso
signifique formar um batalhão de obedientes. Igualmente, podemos ensinar a elas
que podem e devem sentir orgulho de si mesmas por conseguir ter controle sobre
seus atos.
As crianças sofrem quando
não conseguem dominar seus impulsos violentos e de momento. Para que tenham
êxito no árduo aprendizado do autocontrole, precisam de nós, adultos, agindo
como tal. Elas também sofrem quando se afogam no mar da insegurança que as
impede de se esforçarem para aprender. Também nesse momento precisam de nosso
apoio e encorajamento.
As crianças precisam
contar conosco para transformar em ato seu potencial.
Categoria: Folha
Equilíbrio
Escrito por Rosely Sayão
às 12h16
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