Pela
progressão continuada, hoje o estudante da rede estadual só pode ser retido no
5º e no 9º anos do fundamental
Argumento é melhorar o desempenho do
aluno antes de ele terminar o ensino fundamental; educadores são críticos
FÁBIO TAKAHASHI
RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO
ELTON BEZERRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O governo Geraldo Alckmin (PSDB)
fechou proposta para alterar a progressão continuada na rede estadual de
ensino: o aluno, a partir do ano que vem, poderá ser reprovado também no 7º ano
do ensino fundamental.
Hoje, o estudante só pode ser retido
em duas oportunidades -no 5º e no 9º ano. A proposta é ampliar para três: no
5º, 7 º e 9º ano.
Na progressão continuada, não existe
reprovação ao final de cada ano. A retenção só ocorre após os chamados ciclos
de aprendizagem. O argumento é que é preciso tentar melhorar o desempenho do
aluno antes de reprová-lo. A repetência leva à evasão escolar, apontam
pesquisas.
Criar mais um ciclo estava nos planos
do governo desde o início do ano. A avaliação é que o terceiro ciclo permite
maior acompanhamento de aprendizado do aluno. Aventada em fevereiro, a ideia
inicial, porém, era diferente: a reprovação seria já no 3º ano.
No projeto atual, que já foi discutido
com professores e diretores, sai a retenção no 3º ano e entra a do 7º.
A Secretaria da Educação não informou
a razão da mudança. Disse que só hoje poderia comentar o projeto, que voltará a
ser discutido em outubro e poderá ser alterado.
O texto prevê ainda que o aluno que
terminar o 3º ano com dificuldade de alfabetização terá um programa de
acompanhamento intensivo, separado dos demais. O mesmo ocorrerá com egress os
do 6º e do 8º anos.
Educadores criticaram a proposta de
ampliar a chance de reprovação do aluno.
Para Ocimar Alavarse, da Faculdade de
Educação da USP, a proposta é "atrasada". "Introduzir [mais um
ciclo de] reprovação parece mais uma concessão aos professores. Parte das
dificuldades não é de aprendizagem, mas de ensino", diz Alavarse,
ressaltando haver grande número de docentes precários na rede.
Ele também questiona a recuperação
intensiva só depois do terceiro ano. "Isso tem de acontecer antes."
MENOS ALUNOS
O pesquisador Marcelino Rezende, da
USP Ribeirão, diz acreditar que haverá menos alunos chegando ao 8º e ao 9º
anos. "Quanto mais obstáculos, mais a chance de alguns ficarem no
caminho."
Já Regina de Assis, doutora em
educação e ex-integrante do Conselho Nacional de Educação, defende ampliar o
número de ci clos. Mas acha que a retenção deveria começar no terceiro ano.
"Estão t rocando seis por meia
dúzia", diz. "O terceiro ano é a época ideal para avaliar como vai o
processo de cálculo, de escrita, porque a criança sofre uma mudança dramática
da capacidade cognitivo-linguística."
A proposta faz parte de um pacote do
governo de mudanças que inclui reduzir a carga horária de português e
matemática no ensino médio, conforme a Folha revelou ontem.
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