As meninas sobem por um lado das escadas e os meninos pelo outro.
É assim que os 1.100 alunos, da 5ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano do
Ensino Médio, da EE Maria Conceição Moura Branco, no bairro Olímpico, em São
Caetano, seguem para as salas.
Em algumas aulas, os garotos precisam esperar as adolescentes
entrarem no ambiente, para na sequência sentarem nos seus lugares, que são
determinados pela coordenação. Essas e outras normas de disciplina fazem parte
do dia a dia dos estudantes.
As regras, em alguns momentos, lembram a rigidez de um
quartel-general.
O uso de celulares, máquinas fotográficas, ipods, MP3 ou qualquer
aparelho eletrônico é proibido. Caso o aluno seja surpreendido pelos inspetores
com um desses equipamentos, será punido com até suspensão de um dia e os pais
precisarão ir até a diretoria para retirar o objeto.
Mascar chicletes, namorar, andar abraçados e beijar não pode. Mas,
engana-se quem pensa que os pais e os próprios alunos são contra a rigidez e o
autoritarismo implantado no colégio pela antiga diretora Elisa Amélia Godoy
Bezulle, que deixou a escola no final do ano passado, após 28 anos no cargo.
A maioria dos estudantes e pais elogiam. "O que está dando
certo não se mexe. Um dos motivos para os pais matricularem os seus filhos aqui
é a disciplina", diz a diretora Sonia Regina Fonseca Guerra, 52 anos, na
função desde o início do ano.
Boas notícias - A recompensa por tantos "nãos" está nos
resultados da escola nas últimas avaliações da rede dos ensinos Fundamental e
Médio. No exame do Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de
São Paulo), de 2008, o Moura Branco ficou em primeiro lugar na região e a 0,03
de ter a melhor nota do Estado de São Paulo. Teve ainda boas qualificações no
Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) - avaliação em que está entre as melhores
do Grande ABC - e na Prova Brasil, além do Saresp (Sistema de Avaliação de
Rendimento do Estado de São Paulo).
Outro bom resultado pelo cumprimento de todas as normas é que
alguns alunos do 3º ano do Ensino Médio conseguem entrar nas melhores
faculdades do País, como na Universidade de São Paulo (USP), federais, sem fazer
cursinhos pré-vestibulares. Segundo a vice-diretora Fátima Montenegro, 43,
desde 2006, a média é de seis a sete alunos que passam por ano em universidades
públicas, além dos aprovados em faculdades particulares de primeira linha.
A escola conta com uma boa infraestrutura, com laboratórios de
informática, auditório, quadra esportiva coberta, sala de leitura, além do
acompanhamento de perto dos responsáveis. "Os pais são muito presentes. A
média de comparecimento em reuniões de pais é de 97%", conta Sonia.
Educadores divergem sobre as regras
Os profissionais de educação consultados pelo Diário manifestaram
opiniões diferentes sobre os métodos utilizados pela direção do Escola Maria
Conceição Moura Branco.
Para o professor de Educação da USP (Universidade de São Paulo),
Vitor Henrique Paro, métodos disciplinares rígidos são ultrapassados -eram
utilizadas 200 anos atrás.
Ao ser informado que a instituição obtém os melhores índices nas
avaliações do ensino estadual, respondeu : "Não é de estranhar. As escolas
que conseguem bons resultados só funcionam desse jeito. Mas esses exames não
acrescentam nada de novo aos estudantes", completa. "Boas escolas
selecionam os alunos, e os pais que estão interessados cobram por
disciplinas", diz Paro.
A especialista em Educação Maria Ângela Barbato Carneiro, da PUC
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), concorda com as normas rígidas
do colégio estadual.
"As regras fazem parte da vida escolar. Os alunos precisam
observar os limites, assunto que em muitas escolas se perdeu ao longo do tempo
e que nas famílias nem se discute mais", comenta.
"Às vezes, a instituição precisa chegar num extremo para
conseguir um consenso. Isso não significa autoritarismo, mas autoridade da
coordenação", acredita Maria Ângela.
Segundo a professora de psicologia da educação Denise D''Áurea
Tardeli, da Metodista, normas rígidas de comportamento foram excluídas das
escolas brasileira com a abertura política do País, mas estão retornando aos
poucos. "É uma tendência mundial. A França está voltando a adotar. Já nos
EUA, depois da tragédia de Columbine, tem até policiais dentro dos
colégios", conta.
Para a educadora, esse método, sem direção clara, traz poucos
princípios éticos para os estudantes. "Tem que explicar por que não pode.
Senão, o comportamento fica mecanizado".
A Secretaria Estadual da Educação informou que cada unidade tem
autonomia para criar os seus métodos de controle de disciplina.
Alunos reclamam da falta de liberdade para namorar
Os alunos do Moura Branco não veem problemas na maiorida das
rígidas normas de disciplina do colégio. No entanto, a proibição de namorar no
local provoca queixas.
No dia em que o Diário visitou a escola, a reportagem viu a
seguinte cena: os garotos desceram por um lado e as meninas pelo outro. Um
casal de alunos se encontrou no pátio e se abraçou. A menina, ao notar a
presença da diretora Sonia Regina, deu um pulo e saiu andando rápido para o
outro lado. O rapaz apenas deu risada.
A tensão tem o motivo: está na regra que os pais assinaram no começo
do ano letivo, que tal ato é proibido. "Escola não é lugar para
namorar", justifica a diretora.
Para Jade Pereira e Evandro de Freitas, ambos de 15 anos, a
situação é complicada. Eles namoram há três meses e todos os dias aproveitam
apenas os poucos minutos na saída, na porta do colégio. "A gente sempre dá
um jeitinho", conta o rapaz.
A estudante Giovana de Paula, 17, está no 2º ano do Ensino Médio e
adora os procedimentos do local. "A escola está certa em ser assim, talvez
esse seja o nosso diferencial", diz. "É uma ditadura. As vezes
irrita", diverge Fernando Gomes Leal, 19, do 3º ano.
A estudante Barbara Susan, 14, da 8ª série, resume bem o que pensa
sobre as penas impostas aos alunos que não cumprem as regras. "Se
aprontar, se ferra. É difícil estudar aqui. Mas também não tem muitas brigas
entre os alunos", lembra.
Mulheres na direção garantem boas notas e pulso firme
As atuais responsáveis pela manutenção das normas de disciplina do
Moura Branco não são generais, mas sim mulheres delicadas e com posturas
firmes.
A diretora Sonia Regina Fonseca Guerra, 52 anos, e a vice-diretora
Fátima Montenegro, 43, assumiram neste ano uma grande missão: substituir a
ex-diretora Elisa Amelia Godoy Bezulle, que ficou 28 anos na função, e é
considerada por todos a idealizadora das leis talibãs e dos méritos do colégio.
Juntas, as coordenadoras da escola somam mais de 50 anos de
experiência com o ensino de crianças e adolescentes. Por coincidência, ambas já
lecionaram Ciências e Matemática.
"Nós fazemos um trabalho complementado em casa pelos
pais", afirma a vice-diretora. Ela mesma ficou assustada quando chegou no
Moura Branco há seis anos. "Eu estudei numa escola muçulmana e achei aqui
super-rígido, mas essencial para a educação", comenta.
Sonia, com apenas 11 meses na direção, ainda está conhecendo todos
os procedimentos da instituição. "Aqui a participação da família é muito
forte; isso colabora com a proposta", avalia.
Fila de espera chega a ter 500 pessoas
Os pais que desejam que seus filhos se transfiram para o Moura
Branco precisam passar por uma seleção e aguardar na longa fila. Segundo a
direção, a lista de espera chega a ter 500 pessoas. Todos os pais ouvidos pelo
Diário são unânimes quanto ao motivo pelo qual enfrentam esse obstáculo: as
normas disciplinares.
"Eles nos procuram por causa do método. Na vida, esse jovens
vão precisar enfrentar um mundo cheio de regras e disciplina e nada melhor do
que sair da escola com esse aprendizado", diz Sandra Regina Antunes, 39
anos, mãe de dois filhos que estudam no colégio.
Um outro motivo pela procura acirrada são os altos índices que a
escola alcança nas avaliações estaduais e nacionais. "É rígido demais,
exemplar. O importante são as boas condições que a escola oferece para os
estudantes", acredita Sidnei Martins, 57.
A revendedora Edneide Mendes da Silva todos os dias traz os dois
filhos do Jardim Avelino, na Zona Leste da Capital e não reclama do trânsito e
do corre- corre do trabalho. "No mundo de hoje é até necessária essa
cobrança. Tem que ter pulso firme mesmo", comenta Edneide.
Já o representante comercial Sergio Colombini, mora em São
Caetano, e no próximo ano pretende tirar uma filha do colégio particular e
matricular no Moura Branco. "Tenho dois filhos aqui. É uma escola
referencial, com bons costumes e disciplinas claras", analisa Colombini.
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