"Assim como não se espera que um
indivíduo descubra sozinho as leis de trânsito – outro tipo de convenção social
– não há por que esperar que os alunos das nossas escolas descubram sozinhos a
forma correta de grafar as palavras"
Há vários motivos para você ensinar seus alunos a escrever de
forma correta. Além de estimular o aprendizado da língua oficial, o conhecimento
das normas ortográficas ajuda o aluno a superar o medo de se expressar por
escrito e, diferentemente do que muitos acreditam, não afeta em nada a
criatividade. Ao contrário, no momento em que dominam as palavras com
segurança, as crianças não precisam parar toda hora para verificar a grafia e
podem voltar toda a atenção para o desenvolvimento da história, e isso vale
desde os primeiros anos do Ensino Fundamental.
O ensino da ortografia deve ter inicio assim que o estudante
começa a entender o sistema de escrita alfabética, de preferência ainda no 1º
ano, quando tiver aprendido o valor sonoro das letras e já puder ler e escrever
pequenos textos.
É preciso deixar bem claro para os alunos que todas as regras
ortográficas são fruto de uma convenção social, de um acordo estabelecido pelos
especialistas cujo objetivo é padronizar a escrita e que no mundo em que
vivemos quem não domina essa convenção corretamente é discriminado.
O domínio da escrita alfabética nem sempre é homogêneo em cada
sala de aula e o número de erros num texto nunca deve ser usado como parâmetro
de avaliação.
Quem não cria oportunidades de reflexão sobre as dificuldades
ortográficas do idioma não pode nunca exigir que o aluno escreva certo.
A convenção que unifica a escrita das palavras em Língua
Portuguesa exige algum esforço para ser compreendida. Observe os casos mais
frequentes:
REGULARES – São palavras cuja
grafia podemos prever e escrever, mesmo sem conhecê-las, porque existe um
"principio gerativo", regra que se aplica à maioria das palavras da
nossa língua. AS correspondências regulares podem ser de três tipos:
DIRETAS – Inclui a grafia das palavras com p,
b, t, d, f e v (exemplo: pato, bode ou fada).
Não há outra letra competindo com elas, mas é comum a criança ter dificuldade
para usá-las por causa do pouco conhecimento da pronúncia.
CONTEXTUAIS – A "disputa" entre o r e o rr é o melhor exemplo desse tipo de
correspondência. A grafia que devemos memorizar varia em função do som da
letra. Por exemplo: para o som do "r forte", usamos r tanto no inicio
da palavra (risada), como no começo de silabas precedidas de consoante (genro).
Quando o mesmo som de "r forte" aparece entre vogais, sabemos que
temos que usar o rr (carro, serrote). E quando queremos registrar o outro som do
r, que alguns chamam de brando, usamos só um r, como em careca e braço. Essa
variedade explica por que, a princípio, as crianças têm tanta dificuldade.
MORFOLÓGICO-GRAMATICAIS – Nesse caso são os aspectos ligados à
categoria gramatical da palavra que estabelecem a regra com base na qual ela
será escrita. Por exemplo: adjetivos – que indicam o lugar onde a pessoa nasceu
se escrevem com esa (francesa, portuguesa),
enquanto substantivos derivados se escrevem com eza (certeza, de certo; avareza, de
avaro). Na maioria dos casos essas regras envolvem morfemas (partes internas
que compõem a palavra), sobretudo sufixos que indicam a família gramatical.
IRREGULARES – Não há regras que
ajudam a escrever corretamente. A única saída é memorizar a grafia ou recorrer
ao dicionário. Elas se concentram principalmente na escrita:
·
do som do s (seguro,
cidade, auxilio)
·
do som do j (girafa, jiló)
·
do som do z (zebu, casa)
·
do som do x (enxada,
enchente)
·
o emprego da h inicial
(hora, harpa)
·
a disputa entre e, i, o, e
u em sílabas átonas que não estão no final de palavras (seguro, tamborim)
·
ditongos que têm pronuncia
"reduzida" (caixa, madeira, vassoura).
BIBLIOGRAFIA
O aprendizado além da ortografia, Artur Gomes de Miranda (org.) Revista
Nova Escola
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