Manter o prédio limpo e organizado e a
manutenção das instalações em dia é uma das ações pedagógicas que cabem ao gestor. A
escola é um espaço, mas as paredes das salas, a quadra de esportes e os
corredores são apenas o suporte para a aprendizagem de cada aluno e também para
o trabalho de professores, funcionários, coordenadores e diretor. As dimensões
dela se alteram conforme o papel de diretor-arquiteto desempenhado por aqueles
que a gerem pedagogicamente. Primeiro agente socializador da criança depois da
família, a escola é o meio que a sociedade criou para dizer a ela "aqui
temos um lugar para receber você!". A pessoa que a espera na porta deve
estar pronta a lhe dar as boas-vindas. O portão e o muro bem pintados, os
impecáveis corredores que levam do pátio até a sala, as paredes que exibem os
trabalhos feitos em classe: tudo é a prova de que houve uma preparação para bem
recebê-la. "Eu sou importante", ela pensa. E a segurança sobre essa
sua importância é levada para a vida, e não apenas durante os anos de estudos.
Portanto, limpeza, ordem, boa sinalização, manutenção regular e cuidado com
cada ambiente são agentes formais do espaço escolar que vão muito além da
burocracia. Organizar um refeitório acolhedor e que permita a todos ganhar
autonomia ao se servir e compartilhar a refeição com prazer, por exemplo, é um
meio de demonstrar esse cuidado - como mostra reportagem da revista GESTÃO
ESCOLAR de agosto/setembro. Ações como essa fazem parte do processo pedagógico,
pois ninguém aprende onde não há um clima de respeito e de segurança. O desenho
de maquetes educacionais como essa e a definição do uso que terão vêm de um bom
escritório de arquitetura com sede nas ideias do gestor, assim como nas de toda
a equipe e dos pais. O papel desse diretor-arquiteto é também permitir que se
estabeleçam dois conceitos espaciais relacionados à escola: o primeiro é que
ela é um local do aluno - e da sociedade. Lembro-me de uma pesquisa feita por
estudantes da S3 série com pessoas que levavam os cachorros para passear. A
garotada constatou que o ponto escolhido para que os animais fizessem suas
necessidades era a calçada e os muros da escola pública do bairro. Por quê?
"Porque era um local público", respondiam. Para elas, o que é público
não é de ninguém. Por isso, é necessário criar a consciência de que a escola é
pública porque é de todos! Sendo assim, as grades, por exemplo, nem sempre são
uma proteção, pois a população do entorno pode pensar: "Esta grade é para
proteger a escola de quem, senão de nós que moramos aqui?" A melhor forma
para fazer a comunidade se apropriar dela como um bem público é abrir suas
portas. Escolas que têm familiares de alunos e moradores do entorno envolvidos
são mais limpas, menos depredadas, mais alegres. O segundo conceito é que o
espaço escolar decresce com o tempo. No início de nossa vida, a escola nos
parece imensa, quase fantasmagórica. Os corredores não têm fim. Os professores
são enormes. O corpo, a voz, as manias e a sabedoria deles não têm tamanho! No
entanto, quando voltamos lá, décadas depois, vemos que ela não era tão grande e
sentimos certa decepção. Corredores estreitos, salas apertadas. Parece que até
os professores encolheram! Mudamos nós ou mudou ela? É função da escola fazer
com que o tamanho dela pareça menor quando se alargam os horizontes do aluno em
relação ao conhecimento das Ciências, da literatura, da História, da Geografia.
Quando faz isso, ela leva o jovem a ter coragem de participar e de caminhar com
suas pernas pelo amplo mundo que o cerca! Quanto mais cumpre sua missão de
ampliar os espaços de participação, mais a escola se encolhe, pois o aluno
cresce em capacidade de ver e criar horizontes espaciais mais ousados e
próprios.
FERNANDO
JOSÉ DE ALMEIDA (gestao@abril.com.br) é filósofo, docente da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e vice-presidente da TV Cultura -
Fundação Padre Anchieta.
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