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ESTADO DE S. PAULO - SP 12 de julho de 2010
Transtorno
mental afeta mais professores
Problema
cresce na rede municipal de São Paulo e já atinge 10% dos docentes
Marici
Capitelli - O Estado de S.Paulo
Transtornos mentais e comportamentais
foram as principais causas de afastamento por doença dos professores da rede
municipal de São Paulo no ano passado. Foram 4,9 mil afastamentos para uma
categoria com 55 mil profissionais, o que equivale a quase 10% dos trabalhadores.
Os dados são de um levantamento que
está sendo feito pelo Departamento de Saúde do Servidor (DSS) da Secretaria
Municipal de Gestão e Desburocratização. O estudo aponta o crescimento de
problemas psiquiátricos entre os professores. Em 1999, esses transtornos eram
responsáveis por cerca de 16% dos afastamentos. Dez anos depois, a porcentagem
subiu para 30% ? De um universo aproximado de 16 mil afastados.
Outra estimativa, a do Fórum dos
Profissionais de Educação Municipal em Readaptação Funcional, aponta que os
transtornos psiquiátricos ficam também em torno de 30% do motivo das
readaptações. Os professores readaptados são aqueles que não conseguem voltar
para as salas de aula e se dedicam a outras atividades na escola. Eles são em
torno de 7 mil. As demais causas de afastamento são doenças osteomusculares,
como lesão por esforço repetitivo, e do aparelho respiratório.
Para especialistas em saúde do
trabalho, a porcentagem de docentes com doenças mentais e comportamentais é
elevada. "É um número alto levando-se em consideração que é uma categoria
que lida com crianças e adolescentes. Com todos esses afastamentos, quem
substituiu esses profissionais? O ensino fica comprometido", diz o
psicólogo Roberto Heloani, professor titular da Unicamp e da Fundação Getúlio
Vargas, especialista em saúde nas relações de trabalho.
Segundo ele, os professores têm de
lidar com uma complexa rede de pressão no trabalho, o que culmina em doenças.
Ele cita que as famílias, que deveriam fazer o papel de educar suas crianças, cobram
isso do professor. Por outro lado, os alunos querem um professor que também
seja um animador em sala de aula e, quando se sentem frustrados, passam a
agredi-lo.
Influência. Outros fatores influenciam
negativamente a saúde mental, como a atuação do crime organizado e do tráfico,
que muitas vezes estão presentes dentro da escola. Heloani cita estudos que
apontam que um professor de ensino fundamental fica, em média, seis anos na
profissão até encontrar outra ocupação. "Uma carreira que era inicialmente
um objetivo de vida se torna um bico."
O psiquiatra e médico do trabalho
Duílio Camargo, presidente da comissão técnica de saúde mental da Associação
Nacional de Medicina do Trabalho, explica que os transtornos mentais são a
terceira causa de afastamento no País, de acordo com levantamento do Instituto
Nacional de Previdência Social.
A primeira são traumatismos seguidos
por lesões por esforços repetitivos e doenças osteoarticulares relacionadas ao
trabalho (Ler/Dort). O psiquiatra afirma que são vários os fatores que levam
aos transtornos mentais: desde a própria constituição individual até a natureza
do trabalho realizado.
Claudio Fonseca, presidente do
Sindicato dos Profissionais da Educação, garante que a estatística acende
"um alerta vermelho, porque é assustadora". Para ele, os professores
estão submetidos a uma tensão permanente do próprio trabalho somada também às
condições ruins para exercer a atividade. Outro agravante, em sua opinião, é a
carga excessiva de trabalho.
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