Texto
de Vitor Marques
Sempre gostei muito da terra, do campo, de cuidar
de plantas e animais, ver frutos aparecerem, o campo em flor, a chuva cair pela
terra e lavar a alma, o sol resplandecendo o ouro e a prata da vida que brota
que saciam nossa fome, o colorido dos campos, os remédios que brotam da terra -
para a mente e o corpo. No entanto, alguma coisa me preocupava, me deixava
inquieto; a observação de que algo inexplicável ocorria com as árvores me
incomodava.
Eu buscava a explicação em vários locais e não
encontrava ou pior: nenhuma solução para o problema. Mas, a providência me
colocou esta experiência de vida e vejam o que ocorreu: transformou a
preocupação e seus sentimentos, que ocuparam uma parte do meu cérebro por um
bom tempo.
Como sempre tive uma ligação forte com a terra -
talvez pela herança genética de meus avós, portugueses, mas agricultores,
lenhadores e moleiros (tinham moinhos de milho que usam as pedras Mós para
fazer a farinha) ou pela minha educação natural adquirida na escola ou na
curiosidade sobre o mundo em que vivemos - pesquisei muito sobre algo que
observei e que passou a me incomodar progressivamente.
Ao observar e pesquisar sobre agricultura caseira
ou comercial, sempre ficava intrigado com árvores frutíferas que custavam a dar
seus frutos ou que até mesmo nem os davam. Entretanto, a vida me deu a
oportunidade de em uma conversa "ao pé do ouvido", dessas que temos
com pessoas do campo, os velhos mestres da terra, os caboclos, os caipiras -
seja qual nome você dê a esses nobres exemplares da raça humana. Ao falar sobre
a minha constante preocupação vegetal, fui surpreendido com um comentário e um
conselho que esclareceu minhas dúvidas:
- Olha moço, se a árvore não dá fruto, o sinhô pega
três prego e espeta, enfinca no tronco dela, põe até o fundo e pera uns meises.
Ela vai acordá e vai dá fruto - perimenta e ocê vai vê.
Fiquei com um misto de surpresa e curiosidade com
este conselho, mas esse conhecimento não é de leitura, é de prática, e tinha
que ter verdade. Pois bem, assim escolhi uma dessas árvores improdutivas, um pé
de caju que estava enorme no tamanho e há muito era esperado ele desse frutos.
Como o velho mestre do campo falou, espetei os três pregos e martelei até o
fundo. Passei, então, a esperar ansiosamente pelo resultado. Passado cerca de
quatro meses a árvore floriu e frutificou, com uma carga maravilhosa, de
qualidade e número de frutos surpreendente, assim como o velho mestre
agricultor disse.
Não contente com a constatação da verdade do
conselho, comecei a pesquisar na bibliografia conhecida o porquê de espetar os
pregos deu certo, até que encontrei a explicação, que de tão simples é
surpreendente, vejam:
"Quando colocamos os pregos na árvore, a
atacamos, ferimos. A partir daí, a planta se sente ameaçada, sob risco do corte
e da morte. Em uma tentativa contra o tempo, como último recurso de vida,
precisará se preocupar com a procriação, com a propagação da espécie. Começa,
então, a reunir todas as suas forças adormecidas para produzir frutos, ou seja,
suas sementes - a garantia de sua perpetuação."
Mas amigos, o que isso tem a ver com a motivação?
Perceba que a afirmação "ninguém motiva
ninguém" é verídica, é um fato e não há qualquer contestação que eu deva
fazer sobre isso. Afinal, em minhas andanças pelo mundo, desenvolvendo e
falando sobre esse assunto, na luta ininterrupta para estabelecer contatos
imediatos de terceiro, quarto e mil graus que sejam com as pessoas, constato
isso todos os dias.
Mas essa experiência - a das plantas que precisam
de pregos para frutificar - me levou a meditar para encontrar a explicação mais
simples de como propagar agentes motivadores às pessoas. Isso mesmo, precisava
exemplificar isso, de que ninguém motiva ninguém.
Assim, comecei a analisar: se uma árvore tem tudo para
se tornar produtiva - tronco, folhas, terra adubada, sol, água, enfim, tudo -,
para expandir sua espécie e propagar suas melhores partes para a natureza, esta
planta é completa. No entanto, é fato de que ela está preguiçosa, acomodada em
seu terreno, em seu lugar. Está tranquila, não é ameaçada e nem ameaça alguém.
Então, por que frutificar? Não encontra motivos para provocar novas
transformações em sua vida.
Mas quando chega a ameaça da morte, do corte, ela
reage. Começa a sentir todas suas partes vivas e chama à ativa sua genética e
força produtiva para, assim, frutificar.
Da mesma forma somos nós SERES HUMANOS. Quando
estamos acomodados na rotina, acostumados a fazer as mesmas coisas sempre e a
ter sempre os mesmos resultados, ficamos parados, quietinhos, colhendo as
mesmas coisas todos os dias de nossas vidas. Ficamos à sombra de nós mesmos,
aguardando não sei o que para não sei quando.
Quando chega alguém que nos mostra PREGOS ou
acontece algo em nossas vidas que nos impacta profundamente, nos expulsa da
zona de conforto, literalmente nos enfia um prego no corpo e na alma, acordamos
e começamos a buscar alternativas para sobreviver.
O agente motivador - "Enfiador de Pregos"
- é assim, uma pessoa especializada em espetar pregos, alguém que cutuca, faz
pensar e diz: "Você precisa se perpetuar. Saia da zona de conforto,
estabeleça novas metas em sua vida, sinta a energia transformadora que todos
nós possuímos; a sua é especial". Esse ser motivador busca apertar os
botões certos, reacender a força pela vida, pela conquista, ativar os neurônios
e levar você junto com ele a sentir-se totalmente: braços, pernas, cérebro,
nariz, boca e ouvidos.
Realmente, ninguém motiva ninguém. O agente
motivador enfia pregos na hora e no local certos, sem ferir, sem deixar marcas
irreversíveis de dor; pelo contrário, acende a chama da vida. Enfiar pregos é
uma arte, cada um tem o lugar certo onde eles devem ser cravados, pois ninguém
é igual a ninguém.
Você que lê este artigo, está aí sentado esperando
por frutos que nunca chegam? Ou está na espera de que algum dia as coisas
aconteçam sem seu esforço pessoal, assim naturalmente, de repente, sem aviso
prévio e sem sentido? Quem é você que está aí, sentado?
Talvez, eu, nesse momento seja um CRAVADOR DE
PREGOS em sua consciência, que o faça pensar em quanto poder você tem em sua
mente e seu corpo - para transformar a si e ao ambiente em que está. Nas minhas
palestras conheci pessoas caladas, apáticas e que hoje são cravadores de pregos
e juntos procuramos chegar a novos rumos, novos caminhos para efetivamente
viver plenamente.
Venha. Faça parte dessa viagem sem volta; apenas de
ida. Afinal, quando me perguntam: "Quantos anos você tem?". Respondo:
"Tenho todos os anos que posso viver com vida plena. Não sei precisar
quantos viverei - 30, 40, 50, 100 -, mas quero vivê-los intensamente, enfiando
e recebendo pregos".
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